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Leis da finitude

Há um espaço aparentemente vazio Ocupado por partículas flutuantes, Onde afinal existem liberdades comprometidas. Perdem estabilidade as partículas Quando a liberdade se dispersa Para uma busca controlada De limites indefinidos. Descomprometem-se, Aos tropeções nas leis que ditam A finitude dos desejos perdidos Em barreiras intransponíveis.

Pudesse eu beber desse Gin

Hoje esqueci. Esqueci-me.  Esqueci e sei,  Porque só se esquece de facto quando se quer.  Eu quis e quis que esquecesses como se esquece um espirro.  Mas somos tão finitos no teu universo Como é o espaço acima das nuvens No qual me perco a perder-te de vista.  E mergulho noutro universo Onde já não pintas o meu horizonte, Que tem cheiro a maré de verão E sabe a gin num fim de tarde quente.  Pudesse eu esquecer por querer O inverno que gela a distância que separa O verão na minha boca, Do gin fresco no meu horizonte Com cheiro a maré de verão. 

Antes que.

Deitámo-nos fora de tempo antes que o luar se fosse. Permanecendo, querendo, Bebemos dos laços onde se escreve a poesia.  Ao luar, onde somos música,  Quisémos que o espaço entre nós fosse tão ténue Quanto o toque da tua mão pelo meu corpo. Enquanto se fazia noite,  Cedemos à cadência crescente  Das certezas que temos por gritar. Mergulhamos na imensidão do tempo que é nosso E que se faz fugidío, Para dele não querermos demasiado. Antes que o luar se fosse,  Antes que se fizesse dia, Prometemo-nos.

O fim do mundo de trás para a frente.

Há algum tempo que o sol não se põe. Andavam as ruas povoadas de ganância E já não mais caía a noite.  Já não mais se escreviam baladas  Porque a tinta só corre nas horas do coração.  Perdiam-se as manhãs adulteradas Por vultos frenéticos de esferovite humana, Sedentos de um tempo que já não era o deles. Há algum tempo que já não é tempo. 

Três frentes armadas.

São três frentes armadas  A várias gerações de distância. Três frentes de costas voltadas  Onde no horizonte pousam olhos  Tolhidos pela ganância De uma razão há muito equivocada.  Entre duas marés opostas Sabe-se um abismo oco de laços, Onde habitam espaços escassos E uma ânsia cansada. Encontram-se os ventos, Gelam os desertos e vacila  O horizonte onde poisam as marés, Porque nele se encontram os tempos Das frentes há muito armadas Por vazios que ficaram por preencher. 

Best-seller não autorizado.

Havemos de escrever algo tão bonito quanto te prometi. As frases não se escrevem a sós, os diálogos pedem mais do que a unidade, pedem-te a ti e a mim, pedem-nos a nós. Enquanto te debruças na reconstrução das pernas partidas da nossa cadeira de baloiço, vou sussurrando para não te deixar sozinho e, quando terminares, vais aperceber-te que não vamos descrever arcos consecutivos de mão dada. Vais sentar-te e deixar-te embalar pelo peso das tuas lágrimas no sofá que consertaste para nós. E, lá de fora, continuarei a fazer jogo sujo com o teu inconsciente, que me espera nos sussurros contínuos em que me concentro até que não encontremos mais tempo para nos escrevermos. Até que me cale. Até que não te baloices mais no best-seller não autorizado que escreveste para nós. Os diálogos pedem mais do que a unidade e, por isso meu amor, ainda havemos de escrever algo tão bonito quanto te prometi. 

Recuar.

Recuar. Às vezes em malabarismos imprecisos, Tropeções e movimentos descalibrados. Recuar. No sentido inverso à cadência exasperada do tempo. Inexistente. Agarrados a conceptualizações erróneas Traduzidas em palavras fraudulentas. Recuar. Na mímica de um movimento complexo De queda sem previsão de fim. Flutuar. Recuar. Embater.